Crônicas

O que ninguém te fala sobre ter 30 no RG

Completo 30 anos hoje. Os fios brancos do cabelo se multiplicam e os amigos reduzem numa velocidade assustadora. Os poucos que ficam sempre me dizem que apesar de ser considerado jovem, parece que já vivi mais que uma pessoa de 40.

Olhando para trás, vejo o tanto de coisa que já vivi e até me assusto. Pô, vovó estava certa quando disse que depois dos 18, a vida anda depressa demais que nem conseguimos acompanhar.

Tem gente que se importa mesmo em receber congratulações — aliás, esta é uma palavra de velho. Não sou ingrato. Sei que é bom saber que lembrarem da gente, mas receber “Parabéns” é um pouco estranho para mim. Soa algocomo: “Meus cumprimentos por ter apenas não morrido mais um ano”. Sei lá, este mérito nem parece ser meu. Enfim… é bom saber que fazemos parte da vida das pessoas e que elas valorizam a gente.

Lembro exatamente do dia desta imagem acima. Nossas festas de aniversários eram completamente diferentes das de hoje. Não tinha buffet. Quem quisesse fazer uma festa temática tinha que aprender a enrolar brigadeiro na mão, fazer decoração de isopor e aprender a rabiscar os desenhos da TV numa cartolina — Nem sempre dava certo, mas valia a pena.

A família era a principal empenhada na festa. O tio vestia-se de palhaço, o primo escolhia as músicas, a tia fazia a lembrancinhas, a avó cuidava da cozinha. Era uma mobilização familiar. E nem grupo de Whatsapp existia.

A indústria da festa infantil surgiu bem depois. O glamour era ter a família reunida e pronto. Não ganhávamos presentes caríssimos, mas éramos completamente gratos pelo que nossos pais podiam nos dar.

Nenhuma passagem para o Hope Hari era mais legal que o copinho de café com gelatina colorida enfiada na boca, o bolo decorado sempre com muito glacê, os salgadinhos fritos e açúcar eram liberados. A criançada em volta da mesa era considerado uma família de sucesso. A gente andava sempre em um bando de crianças, e se via como tal.

Naquele dia, a gente usava a melhor roupa, e às vezes, uma fantasia bem brega de um super-herói que uma vizinha costurava, chorava na hora de cantar parabéns de pura vergonha, detestava o momento do “com quem será” — aquilo parecia um casamento sem volta — e fazíamos de tudo para apagar a vela primeiro que o primo infeliz. A gente brincava com qualquer criança. O bexigão de doces era o momento mágico.

Não me considero abençoado pelo sucesso que conquistei a cada dia, pelo bom trabalho, mas sim porque sei que boa parte do que sou aconteceu porque sempre soube da onde vim, sempre valorizei pessoas que me transformaram em quem sou, sempre acreditei que a simplicidade era o elemento chave para nunca perder de vista o propósito da vida.

Hoje, nos quase 30, o que ninguém te conta é que completar mais um ano só vale a pena se for com das pessoas que amamos. Sem virtualidade, sem impessoalidade, sem emoticons. Festas surpresas nunca são realmente surpresas.

Naquela época, a gente não ligava para coisas fúteis, a gente só queria ganhar um beijo, um abraço e torcer para que dentro do pacote tivesse brinquedo e nunca roupa. A gente era tão feliz sendo simples.

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O que ninguém te fala sobre ser engraçado

Tenho uma amiga que sempre me diz que sair comigo para tomar um café é como estar no Jimmy FallonSão sempre perguntas não-óbvias, a cada pausa um comentário cômico improvisado, e no final, ambos sentem que aquilo tem que repetir mais vezes.

Depois que ela me disse isso, comecei a observar e fiz uma descoberta grave sobre mim: Eu realmente sou um viciado em fazer pessoas rirem.

O meu desinteresse pelo sério é antigo

Lembro que ainda garoto não me dava bem com pessoas que levam-se a sério demais. Tive uma chefe que gostava de ser vista como a melhor profissional do mundo, e, pelas costas, eu organizei um concurso de imitação dela com os colegas.

O mais curioso sobre isso tudo é que nunca fui o palhaço oficial da turma.No colégio, sempre soltava comentários baixinhos para que alguém com mais coragem falasse alto. Sempre acontecia e essa outra pessoa levava o crédito pela gargalhada da sala de aula. Dei inúmeras piadas para outras pessoas.

Hoje, como um observador cirúrgico que sou, acabo sempre arrancando gargalhadas das pessoas com comentários comicamente pontuais. Talvez seja esta a minha graça particular: Extrair do dia-dia uma graça despretensiosa.

A graça de todo dia nos dai hoje

Meu tipo de humor predileto tem a ver com as situações-limite. Aprendi a rir dos piores momentos. É o absurdo da vida que me faz gargalhar.

Qualquer um diria que este é um raro dom de Deus. Na verdade, penso exatamente o oposto.Se os convidassem para conhecer meus pensamentos mais profundos, chegariam a conclusão que Deus não pode estar por trás disso. Algumas piadas guardo para mim como aquele último Trident que você não quer repartir. Você quer deliciar-se sozinho. Agora entende o nível da coisa?

Eu não faço esforço. Automaticamente, minha cabeça torna-se uma máquina de pensamentos. Ela já está naturalmente condicionada a fazer trocadilhos involuntários, a realizar conexões cômicas com facilidade, a encontrar graça no óbvio e construir graça mesmo num papo mole de boteco. As piadas simplesmente surgem.

A vida é a melhor piada de mau gosto

Há poucos dias, eu cai da escada durante uma mudança de casa e tomei quatro pontos no rosto. Enquanto a doutora me anestesiava mandei: — Mais dois pontos, eu acerto na mega sena. Ela riu gostoso, mas me deu uma bronca. O humor pode estar numa tragédia

Aprendi a rir do intenso. Foi o hilário Mark Twain que disse: “A fonte secreta de humor em si não é alegria, mas a tristeza.” — Segundo ele: “Não há humor no céu”. Concordo com ele que as melhores piadas surgem em situações e momentos mais constrangedores.

Tenho pesquisado sobre pessoas tidas como engraçadas para tentar encontrar a razão deste meu vício. Desconfio que isso surge do meu interesse em ter um bom feedback das pessoas sempre rindo ao meu redor. A segunda opção é que criei um mecanismo de fuga necessário para afastar o tédio comum da minha vida. Aposto mais na segunda opção. Não é a toa que os melhores comediantes são judeus.

A graça está justamente em identificar o elemento que ninguém olhou ainda e satirizar. O humor reside especialmente no embaraçoso. Às vezes, até mesmo as melhores piadas podem te levar a indiscrição, ao desconforto e a aflição. Acontece.

Ser um cara engraçado dá trabalho

O que não te contam sobre ser engraçado é que provocará sempre nas pessoas uma expectativa altíssima a seu respeito.

Às vezes, sinto como eu fosse o único alívio para o ambiente, como se sempre tivesse que me auto superar nos comentários, como que fosse um escravo da minha criatividade ilimitada.

Esta coisa de fazer as pessoas rirem tem me deixado preocupado ultimamente. Pode ser realmente alarmante. Já pensei até que poderia ser uma espécie de doença com direito a diagnóstico, tratamento e medicação.

Já pensou? Um dia você vai ao médico e ele diz: “Péssimas notícias, senhor. O que o senhor tem é síndrome de Monty Phyton, mais conhecida como piadose aguda. Perdemos um paciente na semana passada disso. Falência múltipla de anedotas.”

Talvez neste dia faça mais sentido a expressão morrer de rir. Sei lá.

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O que ninguém te fala sobre a solidão ser uma coisa de adulto

Lembro que quando eu era criança fazia amizade com meia dúzia de palavras. Bastava levar um brinquedo para um lugar que logo arrumaria um amigo para brincar comigo. Criança tem muita facilidade para conectar-se às pessoas. Solidão é coisa de adulto.

Somos um mar de solitários e não há nada que possamos fazer para mudar isso de maneira rápida. Não adianta entrar no Tinder, ter milhares de seguidores no Instagram, fazer Happy Hour toda sexta, pedir um combo devodka ewhisky de dentro de um camarote ou ter muitos contatinhos no celular. A vida adulta é lotada de solidão.

Já repararam que, quanto mais velhos ficamos, menos pessoas vão aos nossos aniversários? Nosso círculo fica reservado apenas a pai, mãe, irmão e talvez meia dúzia de pessoas que sempre fazem os mesmos rolês de sempre.

Você já se vê sem muita pretensão de fazer questão das pessoas, acostuma-se com o edredom e o Netflix, não se importa em tomar um sorvete sozinho, em ir no cinema porque ninguém mais podia ir, em almoçar sua comida preferida sem ninguém para papear.

Não quero dizer que temos que estar acompanhados o tempo todo como se não tivéssemos nossas particularidades. É bom saber suporta-se, saber conhecer-se, ficar em silêncio sozinho olhando para o teto branco, ir viajar só com seu roteiro, comprar aquele ingresso para o show mesmo que ninguém possa ir contigo, correr pelo parque de fones na companhia apenas da sua playlist predileta do Spotify. É possível estar sozinho e em boa companhia.

No entanto, não ignore que, às vezes, a sua cama se transformará em uma grande campo de futebol e parecerá enorme só para você, que na sua mesa do almoço não terá nenhuma pessoa para dividir aquele prato enorme ou roubar sua batata frita, que seu inverno será bem mais frio por não ter com quem dividir um cappuccino no meio da tarde e o cobertor a noite, que não terá ninguém para xingar quando ver que a roupa espalhada pela casa é só culpa sua.

Você dará conta de que a vida adulta tem uma solidão tão particular. E que mesmo que corra atrás de companhia, poucas pessoas realmente estarão interessadas em quem você é. Todos são tão solitários quanto você, e nada mais vai mudar isso. Você será refém de outro solitário viciado e perdido.

A vontade do abraço parecerá utópica. O desejo de que alguém se preocupe contigo será uma ilusão impossível. Você estará na iminência de um perigo ainda mais danoso: Acreditar que somente com outra pessoa é que poderá ser feliz por completo.

Nessas horas, é melhor abrir as janelas da casa e deixar a luz entrar, tentar se esquivar de pensamentos ruins e pessoas que sejam apenas temporárias, de gente que não valoriza a permissão que deu para que ela seja tudo em você.

Ali, enquanto a solidão faz de você seu maior escravo, resista. Abra bem seu coração para escolher não se entregar por migalhas, mas principalmente abra os olhos para aquilo que está ao seu redor. Não menospreze a oportunidade de conhecer gente e ideias novas, de mudar de ambientes de vez às vezes, ou transformar seus hábitos, viciar-se em uma coisa inédita, trocar tudo que precisa ser trocado sem dó de dar embora. Assim mesmo, no impulso de mudança.

As melhores companhias são sempre aquelas que a gente menos espera. A solidão sim é uma companheira fiel, amigo.

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O que ninguém conta sobre o jeito que pensamos os relacionamentos hoje

Estou na mesa comendo com amigos. Ouço alguém dizer que ficar apenas com uma pessoa é ser ingênuo e que reservar-se a exclusividade é coisa de gente burra que não sabe o que o mundo tem a oferecer.

Mais uma vez, escolho me calar. Aquele olhar volta-se sobre mim. Sorrio sozinho diante do silêncio e continuo minha garfada como se nada tivesse acontecido.

Passa pela minha cabeça que a maioria adepta a esse discurso procura apenas justificar sua imensa falta de habilidade em dedicar-se a alguém.Faço essa acusação séria na mesa e complemento que estamos diante de uma geração completamente descompromissada, sem a mínima paciência, que age de maneira inconsequente e que não tem o desejo de crescer conjuntamente.

Mais uma vez, o silêncio paira. Concluo que temos por aí, de maneira nada exagerada, pessoas com sentimentos confusos, de idade emocional infantil e viciadas em si mesmo. Enterro o assunto. O clima de luto é visível.

Alguém sugere que penso isso porque meu relacionamento antigo fracassou. Termino de engolir sem levantar a cabeça. Arrumo os óculos, largo o talher e pergunto para o cidadão quais são os aplicativos que ele mais utiliza no celular. Ele faz cara de quem não entende.

Antes dele responder, disparo:

“Sim, a pergunta faz sentido. Basta uma voltinha nos aplicativos instalados no seu celular para descobrir que você os usa para resolver suas carências, problemas e ansiedades.”

Ele tenta me interromper, mas eu aumento a voz:

“Basta abrir o Instagram, para ver uma coletânea de melhores ângulos ao lado de paisagens invejáveis pagas a prestação do cartão, para notar os pequenos recortes fotográficos dos pratos bem enfeitados, as filmagens das suas bebidas caras do último final de semana. O rosto sempre maquiado das meninas e o cabelo e barba bem cortadas dos rapazes proporcionalmente tão enganoso como as suas vidas altamente felizes, bem resolvidas e agitadas.”

Dou um gole na água com gás e limão, prossigo:

“Se tivermos o trabalho de ver o Whatsapp notaríamos que fizeram dele um refúgio para momentos solitários. Basta acessar a lista de contatos para que o fim de semana não fique empatado. Imagens, vídeos e troca de mensagens nos dão a sensação de que estamos sempre acompanhados ou na companhia de qualquer um que quisermos e que nunca dormiremos sozinhos. E o Tinder?”

Ele engole seco, termino a pausa:

“É a maior marca que do ápice do desespero de qualquer um. Resolvemos olhar para as pessoas e avaliá-las apenas pelos olhos. A maneira que o amor recruta hoje é praticamente online, sem contato físico inicial, sem conversas longas, sem olho-no-olho, sem sorrisos intervalados e nervosismo antecipado.”

Ele, a essas alturas já fisgado, acaba dizendo que as redes sociais também podem ajudar muito. Tenho explicar:

“Esse modelo de procurar amor sem compromisso não favorece as pessoas que não estão em uma academia, que não frequentam restaurantes conceituados, que não viajam para lugares lindos, que não são consumidores inteligentes e que não se preocupam com uma vida virtual interessante. É nitidamente coisa de quem se preocupa apenas com aparência.”

Antes de deixá-lo falar, concluo didaticamente:

“Aliás, já que citou, preciso dizer que, desde meu último relacionamento, conheci pessoas ótimas. No entanto, todas elas estavam sempre tão cheias de pré-requisitos particulares, a maioria não queria conversar sobre coisas importantes, grande parte vivia usando suas desculpas esfarrapadas para fugir de responsabilidades, muita gente era completamente viciada em sua própria personalidade, de modo geral, nenhuma delas parecia querer ser madura suficiente para aprender a construir algo junto sem ressalvas. Elas tinham funis absurdos que revelavam um grande medo de envolver-se. A verdade é que sempre será um desafio encontrar alguém que esteja minimamente disponível a envolver-se sem que esteja com um zilhão de quilos de bagagens, mas junto disso, muita gente quer ser amada, mas não está pronta para amar. Você acha que tudo isso e culpa da ideia de exclusividade nos relacionamentos?”

Espetei o último pedaço de carne com agressividade, coloco-o inteiro na boca e mastigo como quem espera uma resposta.

Sentia de longe o medo de me dar uma resposta sincera àquilo.

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O que ninguém te fala sobre o bar virar o tribunal do amor

A mesa de bar é minha àgora. Quem me conhece sabe que sou daqueles que falam pelos cotovelos num canto da mesa. Tenho uma amiga que diz que sair só comigo é como participar de um talk show do Jimmy Fallon.

Eu realmente gosto muito de conversar e raramente não tenho assunto com pessoas. Para mim, essa prosa festiva de mesa de bar é parte de uma terapia comunitária. (É por isso que prefiro bares à baladas. Podemos sentar, comer algo e conversar sem competir com as músicas altas e repetitivas.) Conversar cara a cara é ainda o melhor jeito de passar um tempo com qualidade.

Pois bem, há dias, fui jantar com um grupo de amigos. Dado momento, o assunto proposto na mesa tornou-se o amor. Prometi não participar. Quando eu falo desse assunto sempre causo espanto nas pessoas. No bom sentido, eu acho.

Para ser mais exato, naquela ocasião, alguém falava da sua dificuldade em encontrar alguém sério. Comentava que até queria ter alguém e ser amada por ela, mas que ao mesmo tempo não estava afim de algo sério no momento. Fiquei confuso com o conceito dela de relacionamento. Isso já era o suficiente para quebrar meu silêncio, mas insisti em ficar na minha.

Cada palavra que saia da boca dela, ficava evidente que queria estar feliz ao lado de alguém, mas que também não queria o compromisso com essa decisão no momento. Era aquele teatrinho típico de pessoas que não conseguem se decidir entre envolver-se ou não na vida.

Por causa dos meus inúmeros textos sobre isso, olharam para mim como se fossem ouvir o pronunciamento de um Papa que recém assumiu o cargo. Era como se eu tivesse que dizer algo. Respirei e fui logo desembuchando sem medo:

Acho que essa constante promoção de guerra entre sexos e o sentimento de que somos o centro do mundo está arruinando tudo. De um lado, fica um tentando fazer com que o outro se adapte a ele sempre, tornando tudo o que ele mesmo projetou numa gincana para quem se envolve com ele. E de outro, não fazem questão de andar seus 50% em direção do outro. E mais: Esses constantes joguinhos psicológicos do tipo: ‘Não vou demonstrar interesse’ estão nos afastando de maneira rápida e danosa. Sinceramente, não tenho mais paciência para isso. Estamos vivendo um tempo difícil. Estamos desinteressando numa velocidade absurda das pessoas por puro capricho. E por fim, eis aí, o nosso maior medo: Quando estamos expostos a um relacionamento, não podemos mais pensar só em nós mesmo. E isso nos apavora.

Pausa longa até que uma das pessoas engole seco e concorda com a cabeça. A outra ri de nervoso e uma terceira fica totalmente sem resposta, mas pensativa. Imediatamente, a mesa mudou de assunto.

Eu posso até confessar que o amor é um réu difícil de ser defendido, mas isso não quer dizer que ele seja culpado por tudo, apenas que existe sobre ele milhões de culpas e acusações que na verdade cabe a nós. Alguns indícios reais, outros nem tanto. O coitado mal consegue defender-se de toda essa gente que o usa para esconder suas indelicadezas e sandices.

O amor raramente merece a sentença, é a gente que não dá conta de assumi-lo com toda sua bagagem na maioria das vezes. Somos nós que escolhemos ser frios, não se importar com o outro e acreditar que somos vítimas de acasos. Constatar isso é um passo para crescer, ignorar é dois para conformar-se.

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O que ninguém te fala sobre não se importar com a verdade

Ser jornalista me faz ficar preocupado com a ideia atual de que não existe mais verdade e mentira. Tentar relativizar ou moldar — para não dizer distorcer — conceitos à uma realidade pessoal parece algo bem perigoso.

Decidimos, sem pensar nas consequências disso, assumir que a verdade é tudo que está a nosso favor. E, aquilo que não nos apoia deverá ser rotulado como mentira. O truque é antigo, mas hoje fica evidente.

Quanto os fatos ocorridos em si, que são quem realmente merece atenção, eles pouco importam. Se algo está em lado oposto àquilo que pensamos, vemos abundar os eufemismos. Agora, se caso algo faça-nos sentir ameaçados, expostos ou desconfortáveis, a gente abandona os acontecimentos concretos e passa a adaptá-los.

A razão deste texto é entender que o problema não são mentiras que circulam.Somos nós. Um estudo diz que A desonestidade é inerente a nossa realidade humana e transpassa por todas as esferas da nossa vida. Até aí, não há muita novidade, mas e quando isso torna-se insuportável por ter permeado todas as esferas da vida? Estamos definitivamente na era da pós-verdade.

Pós-verdade quer dizer o que?

Ralph Keynes em seu livro A Era da Pós-Verdade: Desonestidade e Decepção na Vida Contemporânea (2004) traz o conceito daquilo que ele chamou de pós-verdade.

Este termo foi também eleito pelo Oxford Dictionaries como a palavra do ano em 2016. E o site oficial pontuou que, no caso do termo em inglês, post-truth, a palavra “post” não está ligado a um tempo posterior de um acontecimento, como quando alguém diz pós-guerra, mas sim tem a conotação de superação, como se aquilo já não tivesse muita importância.

Segundo o editor do dicionário, a pós-verdade foi usada pela primeira vez nesse sentido em 1992, em um dos ensaios do sérvio-americano Steve Tesich na revista The Nation. O contexto era que ele estava refletindo sobre o escândalo contra o Irã a Guerra do Golfo. No texto, Tesich relatou que “nós, como pessoas livres, decidimos livremente que queremos viver em algum mundo pós-verdade”.

Mas o que nós temos a ver com isso?

Por mais que o termo tenha sido usado mais recentemente no âmbito político, hoje é totalmente visível que não estamos mais atentos ao que, de fato aconteceu. Assumimos discursos sem se importar com aquilo que está por trás, sem ter condições de checar muitas vezes, sem a preocupação de certificar-se que a verdade assumida é o mais próximo da realidade.

E isso não é exclusividade da imprensa, este é o nosso dia-dia. Estamos sempre compartilhando mensagens caluniosas sobre os políticos que não somos simpáticos, modificando discursos de pessoas que não aprovamos determinados comportamentos, substituindo significados para responder as nossas demandas ideológicas, ocultando elementos de uma história para vender outras. Somos parte da gênese deste monstro que criticamos.

A grande discussão sobre as Fake News e como elas impactam a política é a maior prova de como esse conceito afeta a realidade a nossa volta. Além disso, há uma tentativa enorme de mudar a linguagem e os significados dos seus verbetes apenas para servir realidades ideológicas, existe uma grande tentativa de trazer significâncias modificadas a terminologias que antes era bem consolidadas.

O resultado dessa mudança no discurso lotado de pós-verdades é que passamos a adotar um perigo eminente de justificar qualquer horror em nome do relativismo. Os flagrantes já não provam mais nada, todo fato concreto precisará driblar as versões alternativas para se sustentar, ainda que ele seja comprovado.

As redes sociais ampliaram ainda mais essa discussão. Qualquer figura pública pode hoje fornecer opiniões em praticamente tudo sem que haja investigação. Sem contar que qualquer pessoa hoje pode se tornar um emissor de opinião sem que haja responsabilidade. Os algoritmos também não contribuem fortalecendo uma burrice monocultural que transforma o mundo em um grande condomínio fechado e agrava mais ainda os radicalismo.

Para fechar, em uma cultura de culto à personalidade, a identidade ultrapassa os argumentos. Sem contar a crescente perda de interesse nas evidências. Estamos mais abertos a receber aquilo que nos ajuda a propagar nossas ideias, e totalmente agressivos com o oposto. O resultado disso tudo é uma sociedade radical, que emite mentiras sem medo do que podem estar fazendo, que vivem cada vez mais em guetos mentais e que perderam de vista totalmente a noção de confiança e credibilidade.

A verdade já não importa. Importante mesmo é como ela pode servir a nós e ao grupo que pertencemos. O resto, a gente apenas ignora.

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O que ninguém te fala sobre lidar com a ansiedade

( Antes de qualquer coisa, consulte uma ajuda médica. Aqui é só um relato e pitaco pessoal!)

Curiosamente, começo o texto ansioso para saber como ele vai repercutir. Esta é a única angústia do escritor. Na verdade, todo mundo que produz qualquer coisa, de certa maneira, sofre da ânsia dos resultados. Alguém disse que a ansiedade é o excesso de futuro. E acertou na mosca!

Nada me tira da cabeça que o motivo de termos um amplo surto de ansiedade crônica na atualidade é este ambiente que criamos desesperadamente suscetível à preocupação. Isso nos coloca em um paradigma complexo bem próprio da modernidade: Não sabemos lidar com questões relacionadas ao amanhã.

Sinto-me na obrigação de explicar: Estamos acostumados a pensar nossas vidas a partir de um benefício imediato e a vida moderna tende a nos orientar a olhar para o momento futuro. Daí, o evidente climão.

O cenário instável e a recompensa do depois

Já notou que a maioria das escolhas que fazemos hoje não irão nos beneficiar imediatamente? Vamos a alguns exemplos:

  • Na vida profissional, de modo geral, a recompensa financeira do trabalho que fazemos hoje virá apenas no fim do mês.

  • O diploma que nos dará direito a uma posição social melhor está a pelo menos quatro anos de distância.

  • O resultado da dieta que começamos agora, será visto somente no futuro.

  • A relação amorosa sólida, precisará enfrentar a imaturidade, as fases e dificuldades do momento atual.

Eis o drama: Não sabemos esperar.

Como lidar com o imediatismo moderno

A ansiedade é nada mais que visitar corriqueiramente os problemas que ainda teremos. Fatalmente, viver neste ambiente de retorno futuro nos leva a insegurança, ao estresse e a sensação constante de medo.

Nosso cérebro parece não ter sido projetado para viver com olhos na frente. Naturalmente, a mente animal parece estar mais adaptada para viver em um ambiente de experiências à flor da pele. Lá vai um exemplo:

Se uma ovelha sente-se ameaçada por um lobo, ligeiramente, tem que dar um jeito de escapar. De modo geral, o estresse no mundo animal é pontual. Depois que a ameaça não existe mais, não corremos o risco de ver animais perdendo o sono da noite por causa de uma nova possível ameaça. Entende aonde quero chegar com isso?

Apenas como uma especulação - nada científica - a minha hipótese é que: Nosso cérebro acabou sendo obrigado a se desenvolver na marra, mas se recusa a venerar um estilo de vida de retorno futuro.

Há um século atrás, por exemplo, havia muita instabilidade e preocupação também, mas mesmo assim encontramos uma dinâmica muito diferente da nossa. Essa pequena janela de evolução no modo em vivemos, criou um hiato entre nosso cérebro primitivo e este jeito moderno de encarar a vida.

Estamos vivendo, a maneira mais aguda de uma sociedade que foi projetada para recompensas futuras enquanto desejamos, naturalmente, experimentar o aqui agora mais intensamente. Sacou?

A ansiedade é a vilã, então?

Não acho que ela seja sozinha. O estresse por não conhecer o futuro não é o único grande vilão.

Penso que a ansiedade acabou se tornando uma força a mais que ajudou neste tempo de retorno instantâneos.

O estresse pontual dos nossos ancestrais colaborou para que tomassem atitudes mediante a problemas imediatos. A nossa versão de humano mais primeva simplesmente tinha de resolver problemas de curto prazo como comer, se defender, dormir… Enfim, não havia a mesma frequência de estresse crônico em um ambiente de retorno imediato.

Sociedades menos modernas não sofriam com o futuro como sofremos hoje.

Não vamos encontrar um homem das cavernas se perguntando se vai ter recurso suficiente para ter fogo e comida. Posteriormente, criamos a energia elétrica e o supermercados, mas juntamente com elas, a ideia de valor e também de acúmulo.

Nenhum homem primitivo cortava lenhas e caçava pensando em ser promovido. Não temos informações de um casal das cavernas tendo longuíssimas discussões de relacionamentos. O problema central dos ambiente de retorno atrasado, é que eles raramente poderão resolver-se no momento presente.

A ansiedade ganha corpo justamente porque não temos a menor garantia de que ser um excelente aluno nos garantirá um bom emprego e um bom salário, ninguém pode prometer que se investirmos nossas economias na moeda nacional elas irão dar bons retornos, não temos a menor segurança de que se amarmos alguém por completo teremos uma reciprocidade na mesma intensidade e frequência.

Parece-me que, diferente dos nossos antepassados, estamos cercados de incertezas e damos muita importância para elas.

Olhando para a treta

Obviamente, não podemos simplesmente retornar para uma mentalidade que já não faz mais sentido, mas podemos sim aprender a analisar a realidade de uma maneira menos conturbada. Esta é a nossa vantagem cognitiva sobre nossos antepassados.

A questão central é mudar a preocupação para ação.

  • Ao invés de preocupar-se como será a relação sua com o dinheiro no futuro, que tal implantar uma ação de prevenção financeira?

  • Ao invés de preocupar-se como seus relacionamentos futuros serão, que tal começar a valorizar as que já existem?

  • Se algo no seu companheiro te preocupa, que tal conversar abertamente com ele sobre as expectativas que têm um com o outro?

  • Ao invés de matirizar-se a escolha da profissão, porque não ganhar tempo arrumando na cara de pau um estágio ou entrando em contato com alguém da área?

  • Ao invés de ficar preocupado com sua dieta de perda de peso, porque não concentra-se em cozinhar uma comida mais saudável a cada dia?

A maneira com que encaramos as coisas é que é a chave. Quando temos uma tarefa que possa ser recompensada de maneira futura, devemos transformá-las de algum modo em uma recompensa imediata.

Um bom exemplo é escrever um livro. É uma tarefa longa, trabalhosa e detalhada, não existe a chance de escrever tudo de uma vez, mas podemos nos bonificar com um jantar da comida preferida por cada capítulo terminado, por exemplo. É como damos novo significado as coisas.

Não adianta preocupar-se. É preciso agir.

Vamos direto ao ponto central do texto. Se sabemos que temos um problema de saúde, precisamos focar naquilo que podemos fazer hoje para amenizar. Se estamos em dúvida entre ficar com a loira ou com a morena, precisamos entender que se não escolhermos viver com alguém hoje, vamos ficar sem ninguém. Se não sabemos que proposta de emprego aceitar, precisamos apenas escolher o que mais nos faz bem agora.

Eu nunca tive como proposta aqui resolver seus problemas com a ansiedade, com o medo do futuro, com a sua impaciência diante da vida, com seu estresse por não saber escolher, com sua insegurança do que pode acontecer. Queria apenas debater e ouvir o que tem a dizer.

Minha esperança é que saiba que é preciso mudar suas preocupações por ações.

E se der errado ao final, pelo menos ainda há tempo de recalcular a rota. O que fazer com a ansiedade? Procurar ajuda médica e tentar transformar em práticas diárias aquilo que sabe que colherá somente a longos prazos. Acredito que este seja um meio de reduzir a incerteza e o estresse crônico que estamos metidos nesta sociedade moderna.

Se nada de certo mesmo, pelo menos não terceirizou suas escolhas. Viveu, aprendeu e seguiu. Acredite, um mundo sem ansiedade é um mundo chato para caralho. Mas um mundo dominado por ela, é pesado.

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O que ninguém te fala sobre a crítica

Eu acreditava ser imune demais às críticas. E na realidade, até era mesmo. Sempre escrevi publicamente, mas com um pouco de investigação, flagrei-me num delito inocente: Descobri que não era imune as desaprovações, apenas era um ignorante demais para ouvir quem pensa diferente.

Sinto-me obrigado a explicar. Sempre achei-me superior a qualquer oposição. Por causa disso, deixei de aprender coisas importantes sobre mim que poderiam ter me levado mais longe ou me ajudado a evitar muitos dos erros que cometi.

Colocar as críticas dentro da nossa convivência pode aparecer completamente sádico. Todo mundo sempre fala apenas de como espantar o lado destrutivo da crítica, mas a primeira coisa que aprendi é que lidar com críticas exige primeiramente que deixemos o lugar do rei para aceitar a nossa humanidade.

Temos vivido tempos de convicções rígidas que cada vez mais tem gerado uma quantidade absurda de pessoas que se acham muito autossuficiente. Temos dificuldade em aceitar, principalmente em uma realidade extremamente competitiva, que não estamos nunca acima de todos.

Agora, é verdade que aprendi com muito custo a saber diferenciar entre aquelas discordâncias que nos ajudam a perceber-se e aquelas que são realmente maldosas e com objetivo destrutivo.

Lembro que quando eu era criança uma garoto dividiu a bola comigo no futebol e no ímpeto da desordem, acabou xingando minha mãe com a clássica obscenidade de garoto. Fiquei enfurecido. A professora — que tenho quase certeza que era a tia Amélia já conhecida dos meu leitores — me disse algo essencial.

Na verdade, ela me fez uma pergunta básica, mas cirurgicamente precisa: — “Sua mãe é essa coisa feia que ele disse?”. Fiquei pasmo. Ninguém nunca tinha abordado dessa maneira. Lembro de sentir a fúria diminuir e a frequência do meu coração baixar fazendo meu ânimo acalmar. Eu disse quase inaudivelmente: — “Não, tia. Não”. Ela completou com uma voz doce: — “Então, não temos com que nos preocupar, certo?”. Queria apenas dar um abraço nela.

Aprendi que precisamos ser menos sensíveis e mais concretos. Entender a história do seu agressor ajuda a compreender a intenção dele. É fundamental saber o endereço de origem e o destino final de uma crítica. Não fazemos essa reflexão “Amelística” porque o lugar da vítima é ainda o lugar mais venerado da nossa geração.

Agora, quando recebo críticas, aprendi a focar na mensagem e fazer uma paralelo com a verdade. Nunca me importar com a repercussão dos meus sentimentos ruins diante de tudo e observar honestamente se há verdade no que dizem sobre mim para deixar de me esconder no martírio ou agir com agressividade.

Chamo pessoalmente essa condição de colocar numa balança a crítica e julga-la de “ fator tia Amélia”. Tem me ajudado a crescer quando necessário e abstrair quando possível.

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O que ninguém te conta sobre ser um gênio nada genial

Naquele tempo, tudo que tínhamos eram os já falecidos Orkut e MSN. Se você não faz idéia do que estou falando, talvez seja melhor dar um Google rápido. Eu espero. Vai lá.

Pronto? Já imaginou um mundo em que a internet ainda não cabia direito dentro de um telefone? Pois é, tínhamos “malemá” uma rede bem mequetrefe para ver e-mails. E olha lá. Mandávamos muito SMS. Ok, não fique com vergonha, pode dar Google de novo.

“Estou a caminho”, dizia a mensagem pré-definida. Naquele tempo a gente se falava apenas por mensagem de texto e nem tinha certeza se ia chegar para o destinatário. Era uma roleta russa.

Se quiséssemos saber aonde seria a festa de aniversário do nosso amiguinho da escola tínhamos que recorrer a mapas mentais dos pais e um pouco de sorte. Saímos de casa sem saber da chuva surpresa no fim da tarde. Não podíamos desmarcar nada de última hora com ninguém.

Acho que fui a última geração que usou uma Barsa. Essa eu explico. Era uma enciclopédia britânica em doze volumes que custava o preço de um carro popular. Era o Google que tínhamos. Passei muito tempo copiando mapas numa folha manteiga, verificando verbetes e seus significados, fazer trabalho em grupo dava realmente trabalho. A Barsa lá era uma espécie de Deus, um oráculo, e ficava inclusive na prateleira — para não dizer altar — mais alta e segura da casa.

Teve um tempo em que namorei uma garota à distância e cansei de ficar acordado até tarde para falar um pouco com ela via MSN, não podíamos ficar conectados uns aos outros o dia todo como hoje. Era tudo que tínhamos.

O telefone fixo ainda tocava. A hora do ônibus era um mistério. O vídeo game ainda “estragava” a televisão — pelo menos era isso que nossos avós diziam. Ninguém tinha muitas informações sobre muita coisa.

Também acredito que fui a última geração que sabe o que significa “1,2,3 lá vou eu”, “Tô de figas”, “Lenço atrás, corre mais”, “O stop é…”. Tínhamos discussões intermináveis para saber se a bola passou por cima do Raider ou não — o que tecnicamente era considerado trave ou gol no jogo.

Raros são aqueles que tem arquivos filmado dos seus primeiros passos, que conseguiram gravar suas festas de aniversários com o bolo de glacê da tia que manja de doces, poucos tem imagens se lambuzando na gelatina verde no copinho de café ou feliz embaixo daqueles bexigões cheios de doce.

A gente não era mais feliz, muito menos infeliz, a gente era apenas uma geração que não tinha fixação por informação.

Não pensávamos em um mundo com todas esse conhecimento disponível. Não pensávamos que os jovens teriam tanto acesso a leitura, a conteúdo, a diversidade de pessoas, a cinema de boa qualidade, a cartão de crédito pessoal e um aparelho em que nossos pais soubessem tudo sobre a gente em qualquer momento. Era um mundo muito dependente de coincidências, organização e um pouco de imprevistos.

Não faço aquele papel do tiozão nostálgico completamente convencido de que sua geração foi a melhor que existiu. O mundo nunca teve melhor. Nunca produzimos tanto. No entanto, acredito piamente que não estamos nos tornando mais geniais, apenas temos informações demais sobrando por aí.

Não somos gênios, apenas estamos num overload de informações. (Se você não sabe o que é isso, dá uma última googlada sem medo.)

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