amador

Se não quer ser visto como um amador, não se comporte assim

Eu ainda me lembro da primeira vez que me pagaram para escrever. Era um texto simples, com tom comercial, de caracteres limitados e palavras contadas, que acabou saindo num impulso natural de euforia.

Sentei na frente do computador amarelado e mantinha-me extremamente feliz com o que fazia. Aquilo fez um sentido danado para mim. Lembro-me da sensação de estar vivendo uma espécie de cenário ideal.

Eu imaginava que ali, seria, enfim, o começo imparável de uma jornada sem fim rumo a profissão como escritor. 

Foi a primeira vez que me senti importante, que senti que confiavam em mim para algo e ainda lembro do quanto fiquei feliz por poder contar para meus amigos que alguém havia finalmente decidido me dar dinheiro em troca de textos. O melhor era sentir que o meu sonho era possível.

Apesar disso, hoje sei que foi ali mesmo, naquela inocência monumental, que cometi meu primeiro grande erro de leitura de realidade: acreditei que ter ganho dinheiro para fazer uma tarefa é o que me diferenciava de uma amador para um profissional.

Geralmente, ainda se acredita que tornar-se profissional em algo é trocar trabalho por valores. É claro que esse é não só um equívoco simples de inocência, mas é um senso comum muito problemático.

A primeira constatação importante

O mais interessante era que quanto mais aquilo me satisfazia, mais eu percebia que aquele meu sonho era somente meu. A maioria das pessoas não via muito sentido em pagar alguém para escrever na internet. Ainda mais um desconhecido estudante de jornalismo.

Foi então que percebi que os poucos e pontuais trabalhos de escrita que eu acabava fazendo, eram, na verdade, algumas migalhas de felicidade que me dava alegria momentânea, mas que ao se concluir me trazia uma fome de mais sentido dentro de mim.

Comecei a perceber que mesmo conseguindo uns trocos com alguns dos meus materiais, ainda assim, se eu quisesse mesmo viver daquilo eu teria que ampliar minhas demandas, aumentar meus esforço e multiplicar minha exposição àquela situação.

Me dei conta que se não tivesse uma postura mais concreta como um escritor, provavelmente as pessoas ao meu redor, também viriam meu trabalho como um hobby qualquer, uma terapia ocupacional ou até mesmo como uma atividade extra sem remuneração.

Se eu queria mesmo trabalhar totalmente com textos, eu tinha que fazer mais, planejar mais, me preparar mais e debruçar mais tempo diante dessa tarefa. Eu precisava aumentar a minha disposição de produtividade por algum tempo.

Não há caminho simples

Eu fazia diversos outros trabalhos chatos que pudesse financiar as minhas condições para enfim chegar no que eu planejava. Lembro de um dia que me peguei pensando que mesmo que eu fizesse qualquer outra coisa da minha vida, nas minhas horas vagas eu escreveria sobre isso, porque escrever não é o que faço, mas o que eu realmente sou.

Foi então que saquei que o que:

A diferencia um profissional de um amador não era apenas o tanto que alguém quer fazer algo, ou apenas a quantidade de serviços ou de dinheiro que se pode ganhar com as atividades, mas o que tonar alguém profissional passa pela identidade e a postura prática diante do mundo ao seu redor.

Atualmente, eu tenho uma boa carreira na escrita, e mesmo assim eu ainda luto para continuar me entendendo como um escritor. Mesmo agora que a vida já melhorou, já realizei muito e conquistei coisas importantes, eu tenho que lutar diariamente para não deixar me convencer do contrário. Ser um profissional te custa tudo.

Você quer mesmo ser um profissional?

Você entra em um avião e o piloto se manifesta: “Bem vindos a bordo deste voo. Sou o Capitão Fagundes e gostaria de informar que passei meus anos assistindo documentários de aviões com pipocas em casa ao invés de frequentar o curso de pilotagem de aviões.”

Não seria esta uma cena minimamente grotesca? É claro que não sou um profeta anti-conhecimento livre que acredita que precisamos sempre usar todas as energias num curso formal, mas uso desta alegoria exagerada justamente para ilustrar que há uma grande diferença entre ser um piloto e ter interesse assíduo por aviação.

A pergunta que está no topo desse tópico é importante. Qualquer um que almeje trabalhar responderia que quer sim, viver de algo que o encante, no entanto, a maioria deles não terá uma reposta prática diante da realidade.

Querer ser profissional não basta ter intenções

Durante muito tempo, eu mesmo acreditei que verbalizar para o mundo que eu vivia de escrita me fazia um escritor. Ainda que eu mal pagasse as contas com este oficio ou até mesmo havia escrito qualquer coisas realmente importante, ou relevante para meu mercado. Este autoengano é comum.

Para abandonar o amadorismo improdutivo, nós precisamos aprender a não negociar algumas coisas. Percebi com o tempo que se eu quisesse mesmo ser um escritor eu precisaria fazer disso uma real obsessão. 

Precisava fazer isso sem procurar atalhos, sem esconder vergonhas, sem fingir para mim mesmo e para os outros que meus resultados eram mais que realmente eram.

Eu mantinha sempre em mente que não havia passe de mágica que colocasse meus textos para a maioria das pessoas ler e dali em diante passarem a me contratar para escrever ou pagar para me ler.

Anote mentalmente o que importa

Como um aviso e um gentil lembrete, deixei claro na minha mente que para que um dia eu pudesse realmente ser um escritor, isso me custaria sentir vergonha ou até mesmo culpa por ter hábitos amadores.

Mais do que ter disciplina, você tem que se livrar dos maus hábitos. Para transformar amadorismo em profissionalismo a disciplina não é uma regra única, eu ousaria dizer mais do que isso: 

é preciso excluir hábitos ruins. Isso é o que realmente pode te ajudar a tornar-se melhor.

 Não seja medíocre. Não alimente maus hábitos como encher-se de desculpas, nunca ser acessível, se obrigar a ser multitarefas, dizer sim, sempre, autocriticar-se sem razão, se satisfazer só com a perfeição, adiar projetos pessoais, se importar tanto com tudo ou todos e outros diversos.

Deixe para desistir quando acabar todos os recursos

Muitas pessoas param quando conseguem algo simples, mas aqueles que crescem são aqueles que entendem objetivos como conquistas temporárias. 

Mais do que ter um objetivo é preciso ter um processo claro e repetível. Criar uma cultura de aperfeiçoamento não é pensar que você vai se tornar bom em tudo, mas é conseguir ter frequência em realizar bem seus círculos de competências. 

Não menospreze quem te ensina. Uma boa maneira de aprender rápido é recebendo opiniões constantes — mesmo que ruins — porque é por meio desse compartilhamento de impressões que você pode identificar pontos fracos e buscar mais cuidado. Não valorize o desempenho isolado, abrace pessoas que valorizem a sua consistência.

Entenda o que realmente faz diferença

O que é um fracasso de verdade? Muitas pessoas desistem ao primeiro sinal de problema e presumem serem um fracasso ao invés de ver o fracasso como parte do caminho para o crescimento contínuo e o conhecimento do que aumenta as hipóteses de alcançar bons resultados. É preciso fazer ideia disso.

Hora do jogo não é treino. Não adianta encarar uma atividade apenas querendo praticar e se divertir, é preciso uma dose de pré-disposição ao desconhecido para identificar pontos de melhora e aprimorá-los. Só com isso poderá concentrar-se energia para ter consistência.

Não concentre em um único ponto de vista do mundo. É bastante comum as pessoas pensarem que concentrar conhecimento é obter poder quando, na verdade quando transmitimos experiências, sabedoria e conselhos acabamos tendo de volta mais expertise.

É preciso analisar resultados concretos. Não há crescimento só acreditando que está sempre certo. No adianta focar a vida apenas no que conhece no primeiro nível de experiência, temos que aprender a reconhecer outros níveis que construa ou destrua nossas convicções.

Não conte com a sorte. Não é possível construir bons resultados apenas acreditando que tudo é consequência do seu próprio brilho, é preciso saber que nem tudo toda sorte é auditável. Quando focamos apenas em resultados de curto praza, ignoramos o que podemos ter no longo. Pense sempre amplamente.

Não despreze nada, nem ninguém. É comum associar infantilidade ao ato de destruir outras pessoas por esporte, quando identificamos um problema, podemos nos responsabilizar por eles ou tornar tudo um problema maior. 

Não centralize. Se você tentar descentralizar ações e tomar decisões difíceis baseadas em mais pessoas existe uma grande hipótese de incluir indivíduos e dividir as responsabilidades com eles. Quando não há porque culpar o outro, aceitamos responsabilidades.

Não seja inconsistente, tenha um plano diário. Não queria correr muito, mas pense no caminho todo, ainda que não o veja. Analise ideias impulsivas, invalide o que precisar com coragem. Não acredite no absoluto sozinho, levante probabilidades.

De modo geral, certifique-se do básico, trabalhe com antecedência, gerencie a vulnerabilidade, cuide de si de verdade, fale com pessoas, seja ensinável, aprimore habilidades, anote ideias, faça perguntas, aprenda o que é permitido e o que é proibido, crie rotina de aprendizado e esteja muito informado.

Não seja amador ao pensar que a realidade é o que quer ver, mas faça da mais pura sinceridade da verdade a sua realidade. Não seja um amador de fugir de desentendimentos por pensar que são ameaças, mas veja tudo como uma oportunidade de aprendizado. Isso é ser profissional.

Gostou do texto? Aprenda a usar ferramentas técnicas totalmente práticas e aplicáveis para ter mais resultados reais com seu público, cliente e audiência.

APRENDA A USAR STORYTELLING |BAIXE O LIVRO GRATUITAMENTE

SITE | LINKEDIN | FACEBOOK | INSTAGRAM | NEWSLETTER