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Gente que se acha, lógica de consumo, inversão e amor

Gente que se acha

É batata. Essa gente toda que paga de bem resolvida são geralmente os mais doentes entre as pessoas. Elas dizem ser isso e aquilo, se empoderam de ilusões a seu respeito, gritam para os quatro cantos que fazem e acontecem, mas na primeira exposição de fragilidades se deitam com a consciência — que nunca mente para gente — o quão vitimas elas se sentem de tudo e todos.

Terceiriza problemas mal resolvidos com ela mesma ao mundo, culpabilizam a todos ao seu redor por toda falta de sorte, por todas as ocasiões que a vida a rejeitou para tirar dela a descoberta patente: elas não são tudo que gostariam de ser, não sentem o que dizem que sentem e são pegas no flagrante absoluto de que você nasce sozinho e morre sozinho. Descobrem que ninguém tem a obrigação de te fazer a coisa mais importante da vida delas.
Essa gente se esquece de que o caminho para restaurar a dignidade perdida por um acaso ruim da vida é se levantar e encarar que ninguém é pior, mas também não é melhor que você. As pessoas apenas diferem, e você terá que aprender a não ser querida, a não ser amada, a não ser desejada porque simplesmente ninguém te prometeu isso na vida.

Não dá para ficar com esse papo de todo mundo ser coitado. O mundo girará, ou você corre com o que tem na mão ou ficará para trás choramingando por uma realidade que não existirá.

A poltrona da vítima é confortável porque te dá toda atenção do mundo, mas sentar nela te torna imóvel, fraca e atrofia os músculos. Se você tem dificuldade com algo, com outro ou consigo mesmo, apenas aceite que você não tem tudo que quer, mas também não perdeu tudo que tinha.

É bom sempre lembrar que ainda tem muito para além do que o espelho mostra. Não somos só histórias de triunfo, mas não só as mentiras que contamos. Não somos apenas oportunidades bem aproveitadas e nem coletâneas de acasos e fracassos. Não temos que ser só animação, mas não precisamos viver das desistências. Não seremos fortes, mas também não temos que nos apoiar nas inseguranças, nos disfarces, nas simulações.

Tem que existir sempre na gente um pouco sinceridade. Coisa que essa gente toda que vive de contar histórias bonitas sobre si, e sobre o outro perdeu de vista. Eles estão malucos, cara. Não se guie por eles. É só aparência. É só discurso.

Por fim, se você anda só com quem te mima em todas as horas duras, em que só te apoia em tudo e concorda com tudo que diz, você não entende o mal danado que essa gente te faz. Agora, se andar com quem te levanta e te coloca diante do espelho, você tem que saber que essa é uma pessoa que nunca devemos abandonar.

Porque cuidar é não esconder, é enfrentar, sacudir o corpo e seguir. Mantenha perto de você pessoas que te mostrem quem você é, e não o que gostaria ou deveria ser.

Lógica de consumo

Olha como é a lógica desse tempo: fazia um tempo que eu sustentava o uso do meu Iphone 8. Quando comprei, fiquei de cara com a câmera, mas como todo aparelho da Apple, uma hora a bateria vai para a UTI e ele fica ultrapassado.

Nem posso reclamar. Tendo experimentado um dispositivo Android por vários anos, posso dizer que iPhones valem cada centavo. O aumento de produtividade que recebo do dispositivo (em comparação com a concorrência) vale a pena. Assim como o ecossistema de experiência e o atendimento ao cliente. Enfim, o modelo 8 me serviu por muito tempo e se não fosse pela decadência da saúde da bateria, eu continuaria com ele por mais algum tempo.(Obsolescência programada. Google, pesquisar)

Tendo percebido isso, comecei aquele processo de quem precisa comprar algo realmente caro. Entrava nos sites para monitorar preços e via vídeos no YouTube com comparativos para tentar me convencer ser um bom investimento. Quase sempre o brasileiro comum espera sair o modelo 20, para o 19 ficar acessível aos ricos, para eles venderem o 18, cogitamos comprar o 17 e se esforçar para pagar 16 tendo orçamento para o 15. Pelo menos na minha vida sempre foi assim.

Foi quando uma oportunidade apareceu do nada na minha vida. Um amigo foi até os EUA para comprar um novo para ele e acabou trazendo também para outro conhecido o Iphone 13. Chegando aqui no Brasil, a pessoa desistiu de comprar dele que acabou me oferecendo pelo preço mais em conta. Era uma oportunidade única já que costumo usar um celular por 4 ou 5 anos.

Comprei. Eu já pesquisara muito sobre ele, separado a grana e não tive dúvidas. Uns 3 dias depois estava numa mesa do bar e uma garota me perguntou qual era o modelo do meu novo celular que estava sobre a mesa. Aí que a coisa pegou. Fui logo contando a história, mas já me justificando: “Comprei o iPhone 13, mas não é o PRO sabe, só o 13 mesmo. Normal.”

Olha só como a coisa é sutil na mente da gente: me dei conta que existe uma coisa na nossa mente que diz sempre que estamos atrasados ou precisando de mais do que temos. Mesmo tendo comprado um modelo atual, excelente e inacessível a muita gente, me sentindo feliz com a escolha, eu tive a necessidade de explica-la porque eu não estava com o modelo mais caro e mais top de linha da maçãzinha.

Temos que ficar de olho nessas coisas ou essas coisas nos dominam.

Inversão

Nunca acreditei no que as pessoas dizem sobre elas. Normalmente, a percepções que tem de si são invertidas. Explico.

Conversava com amigos e percebi que muitas pessoas realmente possuem medo de se curar dos seus traumas. Elas podem até identificar seus problemas e reconhecer suas dificuldades com lucidez, mas resistem na ideia de livrar-se daquilo porque toda a sua identidade e personalidade está centrada no trauma que eles sofreram.

Eles não fazem ideia de quem eles são fora dos seus próprios traumas. Por isso, fixam morada ali naquele lugar frágil como garantia de que vão receber a atenção que recebem sempre. Olham para seus traumas como um karma inquebrável, como um destino fatal e imutável, uma espécie de maldição que não pode ser desfeita e entram nesse casamento indissolúvel com seu passado. Isso é assustador.

Sabemos que uma coisa é o conteúdo consciente da nossa mente e outro é o inconsciente. As pessoas falam muito sobre o que desejam, mas, no fundo, não querem tanto aquilo no momento. Enquanto não sabem o que querem claramente, viverão confundindo aquilo que acreditam que querem, com o que realmente estão atrás na vida e se comportando exatamente o oposto.

As pessoas mentem. Pode até não ser na má intenção, mas para se proteger, e esconder-se de si, não lidar com a realidade que está patente. Pode ser para aquilo fazer sentido para ela, para poderem explicar as suas paranoias sem se sentir culpadas ou responsabilizadas pelas escolhas que fizeram. Talvez elas mesmo acreditam no que dizem, mesmo que o comportamento revele outra coisa.

Eu já descobri que não dá para trair-se. Em primeiro lugar, temos que aprender a declarar para nós mesmo o que realmente pensamos sobre algo. Geralmente, as pessoas não fazem isso. Quando elas vão dizer o que estão pensando, já querem melhorar a ideia para não dizer claramente tudo.

Ao invés de dizer o que realmente pensam, ficam tentando embelezar as suas ideias para si mesmo e para os outros. Então, o jeito que arrumei de escapar disso é fazer perguntas para mim mesmo e dizer o que realmente penso a respeito.

Não importa que pareça insensatez, estupidez ou incoerência, mas é assim que podemos nos conhecer melhor e entender como podemos ou não pensar e viver o mundo a nossa volta. Tratar a realidade com a verdade total.

Amor é mais que isso, tá?

As pessoas não sabem lidar com uma vida tranquila nos relacionamentos porque confundem paz com tédio e caos com se sentir viva. Tenho a impressão de que muita gente não sabe lidar com um mundo sem discussões bobas por coisas simples, sem ter que controlar o outro ou deixar-se ser inspecionadas, não conseguem se sustentar com o sossego de alguém que só te ama.

Não. Para muitas delas, o amor para ser vivo, verdadeiro e merecedor de créditos, ele precisa ser um ambiente asfixiador. Um bom companheiro para a maioria das pessoas é um sujeito castrado. Moralmente, eticamente, instintivamente e, principalmente, sexualmente. Um eunuco que fez o voto de morar num calabouço para agradar a sua divindade.

Essa é uma geração que arrota liberdade, mas quando se relaciona, cria um ambiente em que precisam de contatos excessivos para sentirem-se seguras, dizem não se importar com fatores externos como beleza, dinheiro, status, mas fazem da conveniência seu principal filtro de escolha, que se prende ao que espera que aconteça e não no que está acontecendo.

Amor não tem microgerenciamentos. Disfarçam num discurso de cuidado a sua vontade de monitorar aqueles que amam e buscam sempre razões que podem justificar o amor do outro por ele. Andam e fazem o outro andar numa corda bamba de emoções e te empurram para os interesses dele, na esperança de “transformar” você. Amor não tem a ver com atitudes críticas e enxurradas de perguntas.

Amor é diferente. Se você sente que precisa “agradar” para continuar com alguém, considere pensar se esse relacionamento é ou não saudável. Não conseguir gerenciar suas emoções pode ser um sinal de que o relacionamento está se tornando um veneno para você. Daí, ou conserta, ou joga fora.

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