A crise da autoimagem para além das prateleiras de livraria e das fotos do Instagram

A imbatível usina da cultura da autoestima excessiva — há quem negue que ela exista — produziu juntos dos meios virtuais sinais claros de que somos viciados na perpetuação de uma espécie de convencimento forçado de veneração a si próprio como meio de escapar do evidente fracasso da autoimagem.

Funciona mais ou menos assim: A gente recorta um pedaço da realidade, amplia, recorta, dá um talento, cria uma história legal, dá um nome bonito e convence-se de que aquilo, em algum aspecto é a mais pura verdade.

Mais ou menos como acreditar que tornou-se um CEO — e inserir o título na headline do Linkedin — apenas porque conseguiu obter um nome de empresa e a logo bonita numa @qualquercoisa no Instagram para vender algumas coisas e faturar umas notas fiscais com um MEI recém aberto. Percebe? É a estética como verdade.

O que deixa mais claro essa narrativa da estética é o show de estupros semânticos que fazemos com a linguagem evidenciando esse desespero por uma imagem invejável. Chamamos as coisas pelo nome que queremos apenas para convencer-se de que somos o que dizemos ser, fazemos o que dizemos fazer e temos o que dizemos ter.

No campo da cultura, damos nomes novos para coisas antigas como se esta fosse uma cura para as velhas dores. Não se trata de uma proposta para tratar de algo, mas apenas para renomear antigos sofrimentos. Muito do que se tem publicado no campo da saúde mental, do empreendedorismo, do mundo tecnológico é apenas uma repaginação nominal sem efeito curativo.

Talvez seja por isso que o número de usuários de redes sociais aumentam proporcionalmente as agendas do terapeutas cada vez mais cheias — e ainda bem, ou o mundo corria sérios riscos de viver uma loucura ainda maior. Uma evidente verdade é implacável: não somos completos. Há sempre um pedacinho de identidade faltando na gente.

Não adianta as livrarias de aeroporto entupirem-se de títulos com discurso de vulnerabilidade, exaltarmos a educação de falas mansas dos pais modernos formados por Ted Talks e Youtube, não adianta comprometer-se a ser um chefe simpático, risonho e divertido para agradar eleitorado, a focar-se em ser um cônjuge compreensivo, passivo, meloso e temperado na mais absoluta frouxidão emocional.

É tudo estético e plástico. A era do marketing pessoal tornou-se um saco vista desse ponto. É por isso que reafirmo pontualmente:

Sem que haja uma constante e visível evolução interna na maneira de entender a si, o outro e o mundo, patinamos num universo relacional marketeiro, esteticamente fofo, politicamente correto e sentimentalmente perigoso.

Depressão e outros sentimentos relacionados a saúde mental não são bobagens, é claro. Mas muito da sua prosperidade e do seu avanço epidêmico se dá justamente por acreditarmos que mudamos a nossa imagem quando mudamos nosso discurso sobre ela.

Não precisa ser muito inteligente para entender que escrever ladainhas emocionais no feed do Linkedin, criar legendas bonitas com frases impactante no Instagram, sorrir desesperadamente nas viciantes selfies na academia, viajar o mundo inteiro fotografando a si mesmo em lugares exclusivos e receber elogios do nosso corpo no stories não vai nos fazer ser mais felizes. Mas é disso que gostamos. Um açúcar no azedume do tédio existencial.

Cuidar de si, por um outro lado, é zelar pela mais pura lucidez. É nisso que acredito. É disciplinar-se a pensar longe das categorias da imperativa narrativa dos palcos e grandes eventos, é afastar-se do burrinho que leu três livros e viu dois documentários e sai por aí destilando teorias e cagando novas regras. É não acreditar que uma pós-graduação vai fazer seu chefe te dar um aumento, é não cair na moda midiática de abraçar causas para ser bem avaliado, é não negociar consigo a verdade em detrimento aquilo que realmente não importa.

Construir uma autoimagem sólida tem mais a ver com acreditar mais no espelho do que no discurso que fazemos diante dele. É ater-se a manutenção contínua da existência inacabada, recolher pedaços soltos da alvejada realidade concreta e não economizar em confiar nas verdades que nos guiam. Uma autoimagem real é a que mistura a mais pura realidade com os novos objetivos possíveis.

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